sábado, 2 de novembro de 2013

GOVERNO = ATRASO???



Tribunal de Contas também vai investigar o atraso no pagamento da folha do Governo


A possibilidade do Governo ter atrasado propositadamente o salário dos servidores do Estado foi rechaçada pelo secretário de Planejamento e Finanças do Estado, Obery Rodrigues, ressaltando que tal atitude seria uma “agressão à inteligência” dos órgãos fiscalizadores, como o Tribunal de Contas do Estado (TCE). Contudo, a declaração não foi suficiente para tornar as contas da gestão Rosalba Ciarlini (DEM) e a crise financeira que o Estado diz enfrentar, realidades absolutas. Tanto é que a própria Corte de Contas confirmou que também está apurando a aplicação do orçamento estadual por parte do Executivo, a frustração de receita e, ainda, o atraso no pagamento do funcionalismo – chamado de “reprogramação” pela governadora.
A informação foi confirmada pelo presidente do TCE, Paulo Roberto Alves. Segundo ele, a apuração é necessária porque foram encontradas diferenças entre os valores na frustração de receita dita pelo Governo do Estado e na verificada por técnicos da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça, do Ministério Público do RN e, claro, do TCE. “Realmente, não foram os 10,74% que eles (Executivo) disseram, e sim 3,22%. Esse levantamento foi feito por técnicos especializados desses poderes”, afirmou Paulo Roberto.
O presidente do TCE ressalta que, dessa forma, são duas as distorções que teriam sido praticadas pelo Governo do Estado com o decreto de julho, que cortou 10,74% do orçamento de todos os poderes. A primeira se basearia no fato da frustração de receita não ter sido a esperada pelo Governo e, mesmo assim, o corte ter sido mantido. A segunda é consequência da proporcionalidade da redução orçamentária. Todos os poderes e órgãos auxiliares, como o TCE e o MP, tiveram uma redução de 10,74% de seus respectivos orçamentos, mesmo tendo participações bem menores no orçamento global.
“O corte deveria ter sido proporcional. O TCE, por exemplo, representa 0,53%, não chega a 1% do orçamento geral do Estado, então, como é que o corte é de 10,74%, igual ao corte do Executivo, que tem um orçamento várias vezes maior? É isso que questionamos. Defendemos o corte proporcional do orçamento”, explicou Paulo Roberto.
Contudo, essas não são as únicas situações sobre o orçamento que o Tribunal de Contas do Estado está analisando. É apurada, também, a aplicação do orçamento geral do estado (OGE) e o atraso salarial, exatamente da mesma forma como está sendo feito pelo Ministério Público do RN e que foi alvo de ironia do secretário Obery Rodrigues.
“Nós temos uma comissão para analisar a aplicação do orçamento geral do estado de 2013. Já foi distribuído para um relator, que é o conselheiro Carlos Thompson. Estamos analisando o porquê desses valores cortados, desses cálculos, da frustração. Analisaremos tudo isso e também a aplicação do orçamento”, enumerou Paulo Roberto Alves.
Com relação aos salários, o Ministério Público analisa se o Governo do Estado, mesmo tendo dinheiro em caixa, resolveu atrasar o pagamento dos servidores. A decisão seria uma forma de demonstrar a “grave dificuldade financeira” pela qual a gestão estaria passando e, consequentemente, conseguir convencer o Supremo Tribunal Federal (STF) a manter o corte feito ao repasse orçamentário dos demais poderes.
Independentemente do motivo pelo qual atrasou, o TCE também revelou que apura essa situação. “O Tribunal também está acompanhando essa questão dos salários, porque há uma série de pontos que se deve cumprir antes do atraso salarial, como a redução de despesas e o corte de cargos comissionados e é preciso saber se isso foi respeitado. Isso também está sendo apurado pelo TCE, assim como é no Ministério Público do RN. Contudo, cada um tem seu rito.
O Tribunal tem seu tempo”, afirmou Paulo Roberto, ressaltando que essa questão será feita por meio da análise dos números dos quadrimestres e de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
As medidas de austeridade que o Governo do Estado deveria ter tomado antes de atrasar os salários, segundo o MP, seriam: redução em pelo menos 20% das despesas com cargos em comissão e funções de confiança (CF, art. 169, § 3º, I) e exoneração de servidores não estáveis (CF, art. 169, § 3º, II), bem como de outras providências previstas na Lei Complementar Federal n° 101/2000, como extinção de cargos e funções (art. 23, § 1º), ou ainda extinção de órgãos públicos.
É importante lembrar que, diante dessa investigação do Ministério Público, antes de ser anunciada a apuração por parte também do TCE, o secretário de Planejamento Obery Rodrigues rechaçou essa possibilidade de “atraso com dinheiro em caixa”. Sem confirmar se o Estado havia se preocupado em tomar essas medidas de austeridade antes de fazer a reprogramação financeira, afirmou: “Existe uma questão básica nisso aí e uma afirmação dessas agride a inteligência das pessoas que lidam com essa questão de finanças públicas, com a questão da fiscalização, como é o caso do Tribunal de Contas (TCE). Eu acho que é uma agressão, uma afirmativa dessas”.
“Se necessário esclarecimentos adicionais da parte do Governo do Estado, em razão da complexidade dos números, de ouvir o TCE, de consultar os próprios bancos que emitiram as informações, para informar sobre cada movimento de crédito e débito do Governo, isso será feito. Mas repito: esperamos que o MPE venha a público e diga com os extratos do Governo onde é que tem superávit, dinheiro escondido, porque isso é uma agressão aos próprios órgãos de controle, que não teriam a capacidade de apontar: estão aqui os recursos que o Governo diz que não tem”, cobrou o secretário.
Segundo o procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, líder do Ministério Público do RN, o órgão fiscalizador recebeu do Poder Executivo somente na semana passada os dados que precisava para realizar a investigação. Uma equipe de especialistas e promotores de Justiça está apurando os números e só devem se pronunciar novamente com a análise final em mãos.
O trabalho continua mesmo com o fato do Tribunal de Justiça, na última quarta-feira, tendo decidido que o Executivo deverá pagar integralmente o duodécimo ao MP. Ou seja: sem o corte de 10,74% estabelecido pelo Governo.

FONTE: jornaldehoje