Wilma de Faria diz que vai fazer oposição responsável e vigilante
Decidida a liderar a oposição ao governo Rosalba Ciarlini (DEM), a ex-governadora Wilma de Faria (PSB) declarou, em entrevista exclusiva ao Diário de Natal, que falta transparência à atual gestão com as contas públicas e as metas a serem atingidas durante o mandato. Wilma de Faria admitiu que poderá integrar a equipe do governo federal, mas disse que isso vai depender da presidente Dilma Rousseff (PT). Ela minimizou a possibilidade de a atual governadora migrar para o PSB. Wilma também afirmou que nunca existiu uma aliança sólida do PSB com o deputado federal Henrique Eduardo (PMDB). Confira a entrevista:
Como a senhora avalia esses dois primeiros meses de mandato da governadora Rosalba Ciarlini (DEM)?
Eu entendo que quando a gente se elege tem a missão de servir ao povo. Tem que implementar um programa de governo, logo no início do mandato. Na medida em que ela já leu sua mensagem para a Assembleia Legislativa, você tem que especificar, detalhar e tornar transparente esse programa de governo. Inclusive, com um cronograma de execução dos projetos. É evidente que, começando, não tem como fazer tudo. Mas é preciso ter transparência. É preciso que mostre quanto o Estado está arrecadando, quanto está pagando de folha de pessoal, quanto o Estado vai investir... Até agora, só vi a governadora continuar coisas que a gente deixou, como a questão da energia eólica. Essa usina que ela inaugurou foi fruto do nosso trabalho. Eu não a vi se pronunciar a não ser sobre tudo o que foi deixado para a construção de obras, de adutoras, de saneamento... e assim por diante. Fico muito feliz com isso. Ela está continuando aquilo que começamos e estava por terminar. Uma preocupação que eu tenho é que muitas áreas do governo estão paradas, sem funcionar. Isso não pode ficar dessa forma.
Recentemente, a senhora reclamou da falta de transparência do governo atual. A senhora acha que o governo está escondendo suas contas?
O portal da transparência, criado por mim, mostra todas as contas do governo para os servidores, os eleitores, os cidadãos. É muito importante que haja essa transparência que foi tão falada nos palanques do DEM. Mas, até agora não está existindo, pois o portal foi tirado do ar. Nós vivemos numa democracia e queremos que haja cada vez participação popular nas administrações. Estou aqui reivindicando, representando o povo do Rio Grande do Norte. Principalmente, a parcela do eleitorado que votou em mim.
Qual a análise que a senhora faz do uso do dinheiro arrecadado pelo Rio Grande do Norte nesses dois primeiros meses?
Tenho informações de que o governo arrecadou próximo a R$ 600 milhões no mês de janeiro, tem uma folha pessoal de aproximadamente R$ 211 milhões, para cerca de R$ 25 milhões de dívidas fundadas - de muitos anos - e, por tanto, há condições de fazer ações que deveriam ser feitas logo no início do governo. Esse recurso pode ser usado para beneficiar os servidores, os municípios, que precisam de investimentos, e assim sucessivamente. É importante que isso fique muito claro para a população, que se prejudicou. Na hora em que dizem que o estado está quebrado, por motivos eleitoreiros, isso prejudica a população. Veta interesses de investidores aqui no estado. A imagem fica abalada no Brasil e no interior. O RN é um estado promissor. No fórum dos governadores, foi mostrado que o RN se destacou como primeiro do Nordeste em empregabilidade formal. É o que mais cresceu, junto com Sergipe, em termos de IDH. Temos a menor porcentagem de pessoas abaixo da linha de pobreza na região. Temos a melhor renda domiciliar, de acordo com o Pnad. É importante que vejamos esse contraditório. Estão dizendo que nosso Estado não cresceu por uma questão política, muitas vezes eleitoreira. A realidade é outra. Os indicadores econômicos e sociais mostram isso.
A governadora Rosalba Ciarlini tem propagado que encontrou um grande rombo financeiro, deixado pelo PSB. Qual foi a situação em que a senhora e o ex-governador Iberê deixaram a administração?
Eu deixei o governo em 29 de março, com muitas obras às quais o ex-governador Iberê deu prosseguimento. Mas, sobre todos os detalhes de como ficou o Estado, Iberê tem mais propriedade para falar e ele vai falar, quando completar 100 dias de administração da atual gestão. Ele já orientou seu secretário de Planejamento a dar uma explicações e fará a avaliação na hora certa. Eu não posso falar com o governo de Iberê, mas posso assegurar que ele seu prosseguimento a todas as ações que desenvolvemos. O que me deixa feliz é ver que pegamos o estado como um dos mais fracos da região Nordeste e entregamos um estado forte. É o que mais está crescendo no Nordeste.
Com a aproximação entre o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e uma ala do DEM, liderada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, começou a circular na imprensa a possibilidade de o PSB estar tentando atrair essa ala para integrar seus quadros. Entre os nomes citados dos possíveis dissidentes está o da governadora Rosalba Ciarlini (DEM). O que a senhora acha dessa ideia?
Não tenho conhecimento sobre esse assunto. Isso nunca foi comentado pelo nosso presidente, Eduardo Campos. Tenho conversado bastante com ele nesses últimos três meses e isso nunca foi focado. Ela é do DEM. Foi o partido pelo qual ela se elegeu. Acredito que ela deva permanecer lá.
A senhora admitiu que foi sondada, assim como ocorreu com o ex-governador Iberê, para participar do governo federal. Como estão as conversas nesse sentido?
Na minha ótica, seria antético comentar esse assunto, pois todas as decisões de cargos - do primeiro, segundo e terceiro escalão - são de responsabilidade da presidente Dilma. Nosso partido participa do governo federal e estuda ampliar oespaço que ocupa. Mas é uma questão interna do PSB, que não deve ser comentada aqui, nesse momento. Sobre as decisões da presidente Dilma, cabe só a ela se pronunciar.
Mas existe alguma expectativa da senhora em relação a isso?
Estamos conversando com o presidente do partido. Não quero me pronunciar agora. Estou aguardando. Estamos à disposição de ajudar à presidente Dilma, para vê-la melhorar cada vez mais o Brasil. Estou sempre à disposição de ajudar, seja como cidadã ou de forma institucional.
Após as eleições, a senhora se resguardou durante um tempo, refletindo sobre o que levou àquele resultado. Qual foi o resultado dessa reflexão? A qual conclusão a senhora chegou?
Há uma diferença do que se passou no ano passado para quando nós nos elegemos. Eu me elegi, em 2002, com 64% dos votos no segundo turno. Antes de assumir o governo, já estava sendo criticada, cobrada pelos meus adversários. Mesmo antes de assumir. Hoje, quando falo sobre o governo, falo com muita preocupação de ser uma oposição responsável e vigilante. Eu não fui falar, por exemplo, dos processos que Rosalba tem do tempo em que foi prefeita de Mossoró, que são muitos. Eu falei apenas que é preciso mostrar qual o programa de governo que será implantado para o povo. Falei da arrecadação, mostrei qual é a arrecadação e que muita coisa pode ser feita. Citei itens que precisam ter no governo para que se possa exercer a democracia que nós queremos. Eu não acusei ninguém. Fiz uma crítica construtiva. O resultado da minha reflexão foi esse: fazer uma oposição responsável e construtiva para ajudar ao estado.
Fica difícil fazer oposição estando sem mandato?
Não. Não fica difícil porque as pessoas nos elegeram para ser oposição. Nós perdemos a eleição. É preciso ter gesto de humildade. Mas humildade não significa você baixar a cabeça. Humildade você tem nos seus gestos. No seu comportamento. É preciso levantar a cabeça e exercer o meu papel de oposição, como eu já disse, com responsabilidade e ao mesmo tempo procurando ser vigilante, porque o governo precisa ser acompanhado pela população e pelas lideranças.
A senhora não fez parte do grupo que elegeu a prefeita Micarla de Sousa (PV), mas, mesmo assim, ela convidou o ex-deputado estadual Cláudio Porpino, do PSB, para participar da gestão. Como funciona a relação do PSB com a prefeita? Qual é a posição do partido em Natal?
Não devemos misturar os assuntos. Não votamos na prefeita Micarla. Foi exatamente o DEM que votou na prefeita junto com outros partidos que estão aí. Mas sabemos que há interesse da prefeita em levar pessoas que já trabalharam conosco. Por enquanto, não quero me aprofundar sobre esse assunto porque ainda está em discussão. Inclusive, na hora em que o partido não está em aliança, quem desejar exercer uma função na administração precisa pedir licença ao partido.
Então Cláudio pediu licença do PSB?
Não sei, porque as coisas não estão totalmente definidas. Ele tem consciência disso, pois, como dirigente do partido, já falamos isso para ele. Tanto eu quanto Eduardo Campos já falamos com ele sobre isso.
Então, como fica a posição do PSB em relação a Micarla?
Nós fizemos uma reunião com os vereadores do partido e eles deixaram muito claro que vão formar um bloco independente na Câmara Municipal de Natal. Minha posição também é de independência, com vigilância. Não quero me estender nesse assunto porque leva à questão eleitoral de 2012 e ainda é muito cedo para falar nesse assunto.
Os vereadores do PSB já manifestaram interesse em apoiar seu nome para a prefeitura de Natal em 2012...
Vamos deixar isso para outra ocasião. Não vamos falar disso agora, porque não é o momento. Um ponto que chamou atenção foi a aliança do seu grupo político com o deputado federal Henrique Eduardo (PMDB), que se aproximou da senhora, mas, quando passou a eleição, ficou mais próximo da governadora Rosalba Ciarlini. Como foi o período de aliança com o deputado? A senhora o enxerga hoje como um aliado?
Na verdade, nós nunca tivemos nenhuma aliança. Nós apoiamos a mesma candidata, em 2008, que foi a deputada federal Fátima Bezerra (PT), um apoio bem dado, do qual não me arrependo. É uma pessoa que trabalha e que tem compromisso com Natal e com o estado. O deputado Henrique não fez aliança conosco nem em 2008, nem em 2006, nem em 2010. Nós tivemos conversas, mas isso não se concretizou. Ele disse que votava em mim, mas não fez a campanha no nosso palanque. Então, não houve aliança.
Ao responder à avaliação da senhora sobre esse início de governo, Rosalba citou a "Operação Hígia" e o "Foliaduto", momentos difíceis do seu governo. A senhora acredita que esses escândalos a prejudicaram eleitoralmente?
Eu não falei sobre nenhum problema que Rosalba teve com a Justiça, em relação aos processos aos quais ela responde. Isso é comum na vida pública. Quem está no Executivo é vidraça. Tem problemas que só a Justiça pode julgar. Temos que esperar o julgamento. Estou falando aqui de administração. Não estou querendo uma briga política falando da reputação ou de qualquer ação movida contra minha adversária. Estou discutindo o futuro do Estado, que é o debate que realmente interessa à população.
Para finalizar, como a senhora avalia os seus quase oito anos de governo?
O nosso governo fez o estado se desenvolver. Mas existe uma ação política da atual administração querendo apagar nossas vitórias administrativas, que são de conhecimento público e foram apoiadas pela população. Tivemos conquistas importantes para o povo. Tivemos as estradas, adutoras, pontes, casas construídas, a ponte... Tudo o que foi feito em favor da população ninguém vai apagar. Outra coisa importante é que ninguém tente me calar, pois vou continuar sendo a mesma cidadã corajosa e defensora dos direitos da população.
FONTE: nominuto.com